terça-feira, 18 de novembro de 2008


Conflito de faces no espelho
A cada hora me apresento em uma personalidade diferente. Os personagens fogem ao meu controle, assumem o comando de meu ser, externando suas características, gostos e sentimentos. Por que devo ser tão inconstante? Condenada a atuar neste teatro de absurdo, não vestindo características, mas sendo vestida por elas. Elas vem até mim quando eu menos espero, me pegam desprevenida, disputam o meu comando e manipulam meu humor, meu pensar, meu cantar, meu calar, meu caminhar e meu seguir. Os outros não entendem e me julgam, me acusam de ser inconstante, de mentir. Por isso me afasto deles, deixo eles pensarem o que quiserem, suas mentes são limitadas demais pra enxergar o que se passa. Porque o que acontece em mim, está muito além do obvio, muito além da minha vontade ou de minhas escolhas.Tem certas horas em que a melancolia me invade, vem para anestesiar a dor, a sublime dor de não ter o controle, de estar fora do alcance dos resgates. Em outras horas, me sinto inerte, como se assistisse presa, ao estrago nefasto que os personagens causam ao meu existir. Contudo se meu sentir é prisioneiro e se minhas lágrimas fogem para pedir socorro, desta prisão que se tornou meu corpo, minha mente, por outro lado é livre e plena. Ela vai para longe, se esconde nas florestas mais íntimas de mim, quando os invasores tomam minhas escolhas como deles. Prefere entregar o comando do meu ser, que correr o risco de perder a liberdade por entre as garras daqueles que me dominam. Assim como minha mente, minha alma também é forra, comprou a liberdade à preço alto, vendeu meu corpo a baixo preço, para gozar da alegria de correr o mundo solta, sem amarras, como um barco à deriva em águas calmas.Quisera eu ter de volta o meu controle, juntar novamente corpo, alma, ser, mente e coração. Mas eles estão separados, perdidos um do outro, desconexos. Serei eu capaz de reuni-los ainda que por um pequeno instante em um futuro não muito distante?Enquanto isso, me deparo diante do espelho, as invasoras brigam entre si, a mudança em meu olhar mostra o seu conflito. A que vencer a peleja me sairá pelos olhos, e dominará meu ser, até a próxima disputa, mais um personagem me veste.

Nenhum comentário: